terça-feira, 10 de julho de 2012

Biografia resumida de Benone Fernandes Bilheiro

Benone

" O menino é preguiçoso!

A formatura do curso primário, em 1957, em Guarará, com direito a solenidade na igreja matriz, tendo o Padre Adil como paraninfo, foi com "pompa" presente e tudo!
O primeiro "diploma".
A "jardineira" veio sacolejando pela estrada poeirenta e parou.
Desceu o Padre Martinho. Subiram o Padre e o menino de guarda-pó.
E foram.
Campo Belo era muito longe.

"O menino é preguiçoso" observou o Padre Marino, sorriso maroto, ao ver os sapatos do tipo sem cadarço. Uma forma de se aproximar do menino; deixá-lo mais à vontade.
O menino, pele muito clara, enrubesceu. Tinha acabado de chegar. Era tudo muito diferente. A cidade, o prédio, o quarto imenso e com muitas camas.

Fiquei 2 anos no seminário: de 1958 a 1959. Foi um período de extrema importância para a minha formação. O espírito de camaradagem, conviver com as diferenças, disputar as "peladas" no campo de terra, as partidas de futebol "oficiais" com camisa, chuteira e tudo; ver o Marquinhos disputando com o Renato as "tatiquinhas" com a bola de pano; o Raimundo,  que encontrou um ovo naquele morro que fica atrás do refeitório e o quebrou na minha testa, o campeonato de botões com a final entre eu e o Geraldo, com o dito indo para a disputa com um beque mais alto que o goleiro...! O meu time era melhor, mas aquele beque...! As horas na sala de recreio, com ping-pong, música clássica, música popular... Quem se lembra de "o gato da madame, era perfumado, laço no pescoço, todo alinhado...!" O Bessa, que era o tio de todos; o Moacir (Borges Beleza) que era também nosso professor no curso de Admissão e que jogava um bolão; do Seoldo, que naquela época já era um gozador ! Do Carraro, o brigão do grupo. A turma toda, excelente. Cada um, ao seu modo, contribuiu  para a minha formação. Assistir aos jogos no campo do Comercial era o máximo! Quem se lembra do goleirão Plauto;  do grande centroavante Zé Pinto? As férias em Santana do Jacaré, nadar no rio, a  convivência com os padres, estes sim, verdadeiros heróis! Deixar seu país, sua família, sua cultura,  para vir para o Brasil trabalhar com adolescentes, com hábitos totalmente diferentes...! E assistir a Santa Missa todos os dias!
Saí do seminário em dezembro e já em janeiro comecei a trabalhar. O primeiro emprego foi em uma fábrica de calçados. Em seguida, fui para uma papelaria onde tive a oportunidade de atender ao Padre Marino e ao Zé Maria Coelho que, na época, cursava o Seminário Maior, em Leopoldina.
Em 1965, resolvi dar uma guinada de 180 graus e fui para Ipatinga trabalhar na Usiminas. Tinha um belo salário, mas o trabalho era complicado; a começar pelo horário. Tínhamos 3 turnos; um a cada semana: das 8 às 16, das 16 às 24 e das 24 às 8. O sono era irregular; cada semana dormia-se em um horário. Tínhamos, basicamente, 3 categorias de funcionários: os peões, que era o meu caso, os técnicos de nível médio e o pessoal de nível superior que eram, principalmente, engenheiros. Cada categoria tinha seu transporte próprio. Os peões usavam um caminhão Scania, adaptado com uma grande carroceria de ônibus, sem poltronas. Íamos, todos, de pé.
Os técnicos e o pessoal de nível superior tinham ônibus convencional. Meu setor de trabalho era a Escarfagem. Recebíamos as placas (chapas) de ferro vindas do Alto Forno já resfriadas (nem tanto). Eram blocos de ferro com várias toneladas de peso e que eram colocadas no pátio do nosso galpão. Nossa função era marcar com giz as fissuras existentes na sua superfície e numerá-las (as placas) com tinta; então, vinha outra equipe com maçaricos (grandes, com mais de metro) e retiravam as fissuras. O processo espalhava fagulhas de ferro incandescentes para todo lado. Como o trabalho era feito simultaneamente em várias placas, pode-se imaginar o efeito que isto produzia;  era brasa para todo lado! Por isto, o setor era chamado de "sucursal do inferno". Sugestivo, não?
Certa vez, estava um colega da minha equipe fazendo seu trabalho, quando "choveu" ferro incandescente sobre ele. O "cara" do maçarico não se preocupou em olhar para frente e mandou bala. Meu colega se enfureceu e entornou a lata de tinta sobre ele. O "cara" partiu para cima com o maçarico; se pega...!  Pode-se perceber que o ambiente de trabalho não era para donzelas. Certo dia, estávamos eu e um amigo sentados na beira da calçada, esperando o nosso "papa-filas," quando passou um ônibus de técnicos, quase vazio. Comentei com meu colega: estamos aqui, cansados, querendo chegar em casa, passa este ônibus vazio e não nos leva ! E ele me disse uma frase que nunca esqueci: “não adianta reclamar; seja um também!”
Decidi voltar para Juiz de Fora e, em 1966, comecei a trabalhar na Universidade Federal, na área administrativa. Em 1972, fui nomeado Administrador de Restaurantes. Eram 2 restaurantes e servíamos, no pico, 4.000 refeições ao dia. Tínhamos uma equipe de mais de 100 funcionários.
Foi um período especialmente difícil, com os estudantes usando os restaurantes como centro de manifestações contra o regime militar, inclusive com invasões, o que tornava a situação complicada para o Administrador; imagine se um cozinheiro resolve "encarar" a situação; facas é que não faltavam. A situação exigia muita  tranquilidade.
Quando me formei em Engenharia Civil,  fui transferido  para a Prefeitura da Cidade Universitária, para o quadro de engenheiros. Anos depois, fui nomeado Vice-Prefeito.  Tínhamos um quadro composto por engenheiros, técnicos, pessoal de campo e pessoal administrativo. Nossa Prefeitura tinha, guardadas as devidas proporções, as mesmas características de uma Prefeitura convencional já que "moravam" lá, todos os dias, cerca de 10.000 pessoas, entre funcionários administrativos, professores e alunos.
 Paralelamente, fui convidado a dar aulas no Colégio Técnico Universitário, no curso de Edificações. A cadeira era "Orçamento das Edificações". Ainda no cargo, fui convidado pelo Reitor para chefiar seu Gabinete . Foi um período extremamente importante para mim, sob o aspecto profissional. Coincidiu com a chegada à  Presidência de Itamar Franco, um juiz-forano. Então, o contato do Gabinete do Reitor com o Gabinete da Presidência da República foi intenso. Buscávamos verbas para a Universidade.
Em 1993, aos 48 anos, ainda na Chefia de Gabinete, me aposentei. Criei, então, a Pé de Moleque, uma loja de calçados infantis, onde estou até hoje. E para os senhores, que já são vovôs, a loja está à disposição, com o que há de melhor e com os menores preços. Aproveitem !

No plano pessoal, tive 2 casamentos. O primeiro, em 1969, com a Milma Luiza com quem tive 3 filhos: o Alexandro, comerciante, a Andrea, Turismóloga e funcionária do Banco do Brasil e a Fabrícia, engenheira de telecomunicações e também funcionária do Banco do Brasil. No segundo, em 1987, com a Márcia, engenheira e minha colega de turma na faculdade, de que  nasceu a Adriana, minha “raspinha do tacho” e que estuda bioquímica." 




3 comentários:

  1. Vê-se que o menino não se intimidou pela pecha (... o menino é preguiçoso!) e mandou ver na vida, com decisão e arrojo. Como diz o poeta Vandré:"quem sabe faz a hora ... não espera acontecer".
    Um abraço,
    Santana

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  2. Valeu Santana ! Me sinto honrado pelo elogio. Abraços - Benone

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  3. Benone, vá se preparando, pois o Conselho Editorial já está trabalhando num questionário para sua entrevista.

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